Era uma vez um pequeno indiozinho japonês chamado Yura que vivia com a sua família em uma casinha ao pé de um enorme vulcão adormecido. Todos os dias, seu pai saía de manhã para trabalhar na roça enquanto sua mãe cozinhava o delicioso almoço com vegetais frescos da plantação. Quando a comida ficava pronta, a mãe pedia ao garoto que tocasse o sino na porta da casa e corresse chamar o pai para comer. Empolgado, Yura tocava o sino com força e voava pelo campo gritando a plenos pulmões: "A comer, papi! Ya está lista la comida!", para então compartilhar uma divertida refeição com a família toda reunida e mostrar suas malucas invenções construídas com Lego.
No entanto, um certo dia após a saída do pai, a mãe de Yura pôs a mão na cabeça e disse, inconformada: "Puxa, esqueci de comprar os fósforos para o fogão!". Ela se levantou e foi buscar as chaves da camionete. "Yura, preciso ir até a cidade e vou demorar um pouco para fazer o almoço. Espera a mãe que volto já, já!" ela disse em japonês para o filho, que assentiu com a cabeça e sentou para brincar com seus instrumentos musicais coloridos enquanto ela saía de casa apressada.
Yura tocou a gaita, a melódica e o piano até compor dezenas de complexas sinfonias dissonantes. Cansado da música, foi buscar o balde de legos. Com blocos de infinitas cores e formas, criou exércitos de robôs gigantes que batalhavam violentamente entre si e construiu torres e castelos que subiam tão alto quanto o cerro Imbabura.
Já deviam fazer horas que a mãe tinha saído e o pequeno indiozinho estava cansado de brincar, queria logo mostrar suas criações para o pai. Com um suspiro, Yura olhou à sua volta, viu a casa vazia e teve uma ideia. Levantou-se de um salto e correu até a porta. Bateu o sino com força e correu pelo gramado: "A comer, papi! Ya está lista la comida!". Esfomeado, o pai saiu da estufa de tomates com um sorriso no rosto e, passando a mão na barriga, suspirou: "Ufa, finalmente, já estava ficando com fome mesmo!"
Entrou em casa e já ia se sentando à mesa quando viu que estava tudo vazio. "Onde está a mamãe?", perguntou a Yura, que o olhava com um sorriso maroto no rosto de feições quechuas e asiáticas. O garoto levantou o colorido robô que tinha construído e mostrou ao pai: "O almoço ainda não está pronto, mas olha o robozão que eu fiz!" Chateado, o pai se dirigiu à porta retrucando: "Agora não posso ver, filho, preciso trabalhar. Quando o almoço estiver pronto, eu volto e aí vejo tudinho o que construiu de manhã, tá bom?" e saiu.
O indiozinho voltou a sentar no sofá e brincou de olhar pra parede pelo máximo de tempo possível. Passou horas a fio olhando a parede sozinho. Fazia bolhas com a boca e as via estourar enquanto mexia os pés lá no alto deitado de costas. Desenhou mil vulcões e os dragões que viviam lá dentro, brincou com o gatinho correndo pela casa, pulou e deu cambalhotas na cama, mas nada de a mãe chegar.
Cansado, Yura se levantou e, novamente, saiu para bater o sino e correr em direção ao pai: "A comer, papi! Ahora ya está lista la comida!" Saindo outra vez da estufa, o pai olhou para o garoto com desconfiança e respondeu: "Espero que seja verdade dessa vez, filho!", dirigindo-se até a casa com seu passo longo e firme de camponês.
Abriu a porta e voltou a se deparar com a casa vazia. "Não acredito, Yura! De novo?", disse indignado. "Vamos brincar, pai! Já faz muito tempo que você está na plantação. Você só trabalha, trabalha, trabalha... nunca tem tempo pra brincar?" perguntou o garoto. "À noite posso brincar, filho, agora preciso resolver os problemas da horta para que possamos ter comida pra janta." e voltou para a estufa.
Angustiado, o garoto já estava para começar a chorar quando sua mãe finalmente chegou em casa. Ao abrir a porta, Yura correu para abraçá-la: "Filho! Desculpa a demora, tinha uma fila de carros enoorme na estrada..." e foi para a cozinha: "Vou preparar um almoço bem gostoso!" O garotinho assistiu à mãe enquanto ela cozinhava com agilidade e precisão, cortando as cenouras em cubinhos bem pequenos e cozinhando um feijão que soltava um cheiro delicioso no ar. Em pouco tempo, estava tudo pronto e a mãe disse para o filho correr para chamar o pai.
Yura saiu em disparada, bateu o sino com todas as forças e partiu em direção à estufa de tomates: "A comer, papi! Ahora es de verdad, ya está lista la comida!" Entrou na estufa onde o pai continuava trabalhando sem se distrair. O indiozinho o puxou pela calça e repetiu: "Papi, ya está lista la comida!", mas seu pai o olhou cansado e respondeu: "Sei que está mentindo, Yura. Volte pra casa." Yura insistiu, gritou, jurou de pés juntinhos que dessa vez era verdade, mas nada de o pai se mexer. Triste e indignado, o garoto voltou sozinho para casa. A partir daquele dia, seu pai ficou para sempre trabalhando dentro da estufa de tomates convencido de que o filho sempre mentia quando vinha chamá-lo para o almoço.